segunda-feira, novembro 18, 2013

Problemas de escuta


Todos os dias penso um bocadinho nisto mas nunca o tinha posto por escrito. Um dos grandes problemas da política nacional está na escuta. Sim. A Direita fala a e a Esquerda não quer ouvir. A Esquerda fala e a restante Esquerda não quer ouvir e quando essa restante Esquerda também fala... também a tal outra Esquerda não quer ouvir. Toda a gente, de todos os quadrantes, fala e a Direita não quer ouvir ninguém. Parece-me que boa parte do problema é isto. 


ilustração: Igor Lukyanov

sábado, novembro 16, 2013

A Política e eu: 'status' da relação. "É... complicado"

Duas coisas (de que já desconfiava) mas que percebi nos últimos tempos.

1) Os partidos políticos (os actuais e os - aparentemente - futuros) pouco ou nada têm para me oferecer; têm na sua génese bons ideais mas péssimas narrativas de/para se apresentarem ao público/eleitorado, o que só me dá "material" para a sátira (seja em conversa simples ou em cartoons que faça, por exemplo).

2) Nunca serei convidado a integrar um partido político (actual ou - aparentemente - futuro) porque quem neles ou à volta deles gravita até gosta que se satirize os outros partidos mas percebe que mais cedo ou mais tarde este que agora escreve vai satirizar também o seu, e isso é-lhes aborrecido. Ainda bem, digo eu, que não estou a pensar formar um partido ou fazer parte de um. Mas isto, na política, pode sempre mudar, claro. Como os políticos (actuais e - aparentemente - futuros), que estão na política ou que - aparentemente - vão estar.

Imagem: pormenor.pt

quinta-feira, outubro 17, 2013

Paradoxos

Hoje, um jornalista de televisão entregou dois artigos para publicações diferentes; uma em papel e outra online. Pode parecer paradoxal mas há jornalistas de televisão que são felizes longe das câmaras de televisão, a escrever coisas para serem consumidas em mais que um minuto e meio, sem a vertigem da simplicidade e do combate ao aborrecimento/zapping imediato, mesmo sem a "bengala" de ter qualquer imagem que facilita imenso a escrever o conteúdo de uma peça e mesmo sem aquela coisa de aparecer na televisão, que é o que mais fascina grande parte dos jornalistas de televisão (e eles acham que os define como - grandes... - profissionais). Enfim... paradoxos.

The last ride

Foto: viewallpaperhd.com

Fazer uma coisa pela última vez é como, por fim, pousar uma bicicleta que em tempos utilizámos todos os dias com o maior gozo do mundo, até pararmos de andar nela (por um motivo qualquer) e em que pegámos uma derradeira vez, só para ver se andar de bicicleta é como diz o ditado: nunca se esquece.





PS: Não, nunca se esquece. E a última volta dá o maior gozo do mundo, tal como a primeira.

segunda-feira, setembro 30, 2013

Aquilo que nunca me disseram...

... mas que um dia precisei que me tivessem dito.



Pára. Respira. 


Pára a cabeça. Não ponhas tudo em causa... por causa de um pensamento teu, por causa de algo que julgas que é "assim" mas afinal pode ser "assado", por causa de algo que tu achas que está a acontecer e pode não estar.

Pára. Deixa o mundo acontecer. Deixa-o rodar um bocadinho à velocidade e maneira dele. Não tentes empurrá-lo sozinho para o sítio ou para lado que tu achas que ele deve ir. É isso que fazes sempre.

É que quando - muito naturalmente - o mundo leva a melhor, cais por terra, culpas toda a gente, culpas-te a ti, "móis" e "remóis" e voltas a "moer". E sentes-te mal e achas a culpa não pode morrer solteira e vociferas e choras e revoltas-te contra tudo, contra todos, contra nada ou coisa nenhuma e contra ninguém em particular, excepto contra ti. Mas não paras. Nunca.

Lê um livro.

Pára. Respira. Deita-te na areia molhada da praia sem estar a pensar no que quer que seja, se fazes favor. Pega no carro, vai até à praia para te deitarares e não para pensar na vida. Vai lá porque gostas e não para fugir de alguma coisa, ou de alguém, ou dos problemas ou das tristezas. Vai lá. Tudo o resto, quando voltares, deverá estar exactamente no mesmo sítio. Se não estiver… tanto melhor!

Olha para as pessoas como sendo pessoas que tal como tu têm problemas e feitios e merdas para resolver e defeitos que nunca irás compreender ou conseguir mudar. O mundo não é perfeito. Para ninguém. E uma coisa é certa. Não é - nem nunca será, de certeza -  aquilo tudo que precisas que seja. É - e será - o mundo possível.

A vida - a tua e a de toda a gente - é a vida possível. E a tua tarefa - tal como a de toda a gente - é seres o mais feliz possível, apesar de tudo, apesar dos defeitos do mundo e das pessoas. E dos teus defeitos, também, já agora. E apesar da vida ser, de facto, difícil.

Pára. Respira.

quinta-feira, setembro 26, 2013

Uma história especialmente banal

Eles estavam os dois dentro de um impressionante Mercedes. Ela, de porta fechada, estava com ar de enfado. Ele, de porta entreaberta, limpava minuciosamente com uma flanela um grão de pó junto ao vidro. Ela chamou-o para lhe dizer alguma coisa e ele não respondeu, continuando absorto mas entusiasmado na tentativa deixar os interiores do Mercedes impecáveis. Ela - via-se - estava furiosa pelo desprezo mas lá tentou o contacto mais uma vez. Ele sorria enquanto limpava. Foi tudo em coisa de 15 segundos. Não mais. Ele só deu conta de ela ter saído do carro quando a porta do outro lado bateu com força (e, zeloso, já se virava com cara de mau para dizer-lhe que aquela "não é a porta da quinta!") Tarde demais. Ela já se afastava a passo largo. Ele ainda saiu com um pé fora do Mercedes, deixando o outro a pisar o tapete do amado automóvel. "Estás maluca?! Por eu estar a limpar o carro?! Isso são ciúmes, não são?!". Ela nem respondeu, nem sequer olhou para trás. De certeza - adivinho - que era nisto que ela ia a pensar enquanto descia a rua: bonita como é, há-de ter rapidamente um namorado com um carro utilitário, barato. Um homem que tudo fará para ter sempre o automóvel impecável ANTES de a ir buscar para sair, para ela sentir que realmente é especial. Acho que foi por isso que ainda vi um sorriso bonito aparecer-lhe na cara.



sexta-feira, maio 24, 2013

Aníbal & Alzira




Antes de tudo mais, tenho a dizer que discordo profundamente do adjectivo utilizado por Miguel Sousa Tavares para caracterizar Cavaco Silva. Palhaço não adjectiva bem o actual Presidente da República. A profissão de palhaço pressupõe trabalho e muito (sei-o bem, por experiência própria – mesmo não sendo palhaço profissional) para fazer rir as pessoas. Ora, Cavaco não é profissional do ramo e faz rir as pessoas sem esforço. Logo, palhaço é um adjectivo utilizado incorrectamente, a meu ver.

Dito isto, apercebo-me que Cavaco, afinal, não vê as notícias. De facto, aquilo que dizem dele – de que não está ao corrente do que se passa no país real – é mesmo verdade. Cavaco “não está nem aí” (para utilizar uma expressão brasileira – tentando evitar eventuais processos pelo Ministério Público, obviamente) para o que é dito e mostrado às 13:00 e às 20:00 todos os dias. Já nem digo nos canais de notícias no cabo, porque não espero que as rendas do Presidente cheguem para esse tipo de luxos.

Visse Cavaco as notícias e saberia que, há muito pouco tempo, Alzira (por alguns conhecida por Zira; e ainda por outros – ultimamente, ao que consta – por Zirinha), uma senhora do Norte do país (o tal país de que Cavaco é o Presidente) perdeu um processo que colocou em tribunal por um cantor popular ter feito e cantado em público uma canção chamada “O Grilo da Zirinha”, por considerar-se injuriada. Nesse caso em concreto, o tribunal até acabou por dar razão ao artista e Alzira teve de pagar as custas judiciais. Mas não interessava. O povo já tinha tomado juízo igual, dando razão ao cantor popular e achando que Alzira-Zira-Zirinha tinha cometido uma argolada ao levantar a questão da injúria.

Se os tribunais irão dar razão a Cavaco e/ou ao Ministério Público, logo se vê. Mas não interessa. Boa parte do povo já fez o seu juízo. E ri-se do Presidente. O que ainda assim não significa que estará a fazer figura de palhaço, uma vez mais o digo, porque não fez esforço algum para isso. E, claro, não é a sua profissão.


segunda-feira, abril 29, 2013

Nada diz mais «Estou disposto a cagar na via pública»...


... que um destes naperons, em forma de cartola (que não disfarça a existência de um rolo de papel higiénico lá dentro - bem pelo contrário), exposto orgulhosamente na chapeleira de um automóvel, a circular por aí.