quinta-feira, setembro 26, 2013

Uma história especialmente banal

Eles estavam os dois dentro de um impressionante Mercedes. Ela, de porta fechada, estava com ar de enfado. Ele, de porta entreaberta, limpava minuciosamente com uma flanela um grão de pó junto ao vidro. Ela chamou-o para lhe dizer alguma coisa e ele não respondeu, continuando absorto mas entusiasmado na tentativa deixar os interiores do Mercedes impecáveis. Ela - via-se - estava furiosa pelo desprezo mas lá tentou o contacto mais uma vez. Ele sorria enquanto limpava. Foi tudo em coisa de 15 segundos. Não mais. Ele só deu conta de ela ter saído do carro quando a porta do outro lado bateu com força (e, zeloso, já se virava com cara de mau para dizer-lhe que aquela "não é a porta da quinta!") Tarde demais. Ela já se afastava a passo largo. Ele ainda saiu com um pé fora do Mercedes, deixando o outro a pisar o tapete do amado automóvel. "Estás maluca?! Por eu estar a limpar o carro?! Isso são ciúmes, não são?!". Ela nem respondeu, nem sequer olhou para trás. De certeza - adivinho - que era nisto que ela ia a pensar enquanto descia a rua: bonita como é, há-de ter rapidamente um namorado com um carro utilitário, barato. Um homem que tudo fará para ter sempre o automóvel impecável ANTES de a ir buscar para sair, para ela sentir que realmente é especial. Acho que foi por isso que ainda vi um sorriso bonito aparecer-lhe na cara.



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