quarta-feira, abril 16, 2014

Uma discussão silenciosamente ruidosa

Ponto prévio: Confesso que gosto de ver pessoas a conversar em Língua Gestual.


imagem: sharkreef.org

Umas mesas à minha frente no centro comercial um casal conversa com visível intensidade, em Língua Gestual. Não se ouve um som sequer mas ambos gesticulam freneticamente e as expressões faciais que fazem são graves. Pelo meio da discussão, ela aponta frequentemente para uma garrafa de água, que está num pequeno tabuleiro, em cima da mesa. Ele parece sofrer com cada palavra que ela lhe dirige, cada gesto que lhe faz, cada expressão facial que lhe mostra. E parece defender-se com argumentos, gestos, expressões igualmente intensos e graves. Ajudava-me perceber alguma coisa de Língua Gestual (tenho de aprender) para compreender o que realmente se passa ali, muito embora reconheça que isso seria uma invasão da privacidade do casal. Aquilo que me parece ser uma forte discussão continua. Por fim, ele parece conceder. E ela sorri. Eles beijam-se longamente e o abraço que se segue é maravilhoso, só de ver. Ele levanta-se, sai da mesa e volta com uma nova garrafa de água, que está baça e por aí se vê que é de água bem gelada. Ela retribui oferecendo-lhe um sorriso rasgado, do tamanho do mundo. Conversam um pouco mais, agora já em perfeita harmonia, com sorrisos, gestos mais calmos e muita ternura, perfeitamente visível. Continua sem se ouvir um som sequer. Não percebo nada de Língua Gestual mas presumo que ali tenha acontecido o que sempre acontece. Até mesmo numa discussão banal - como qual a temperatura ideal de uma garrafa de água - a harmonia do casal atinge-se quando ele concede e ela consegue exactamente o que quer.