Não há nada pior para mim que senti-me um zombie. Logo eu, que até gosto de livros, séries e filmes sobre zombies... não gosto nada de me sentir uma espécie de morto-vivo, entre duas condições, de por um lado ter de estar ativo e, por outro, ter pouca (ou nenhuma) vontade ou possibilidade de avançar para onde quer que seja.
Não sou o único - sei bem - mas pelos outros custa-me falar, se é que alguma vez poderei falar por mais alguém para além de mim.
Sinto-me um zombie e não há grande coisa a fazer, sem ser esperar. Ou seja, pouco mais posso ser agora que não... ser um zombie. E esse tempo perdido, entre o céu e o inferno - naquilo a que se chama "ter os pés bem assentes na terra" - é de uma crueldade imensa. É de uma inutilidade atroz.
Não se é, não se faz, aquilo que se quer e gosta. É-se, faz-se, aquilo que é possível... e curiosamente também o impossível. Porque os tempos assim o exigem; que sejamos aquilo não somos, que façamos aquilo que é impossível sermos (só) nós a fazer. Para nós próprios - que nos conhecemos melhor que ninguém - somos hoje uma ínfima parte do que somos de verdade ou do que poderíamos ser. Para os outros - que mal nos conhecem - somos no mínimo dez vezes mais do que aquilo que parecemos. Mas não em valor. Em espaço. Parecemos estar sempre "a mais", onde quer que seja. Um armazém quase vazio de gente (hoje em dia as pessoas são mercadoria, pura) é sempre visto como estando a abarrotar do chão ao teto... e ai de quem esteja mais perto da porta - nem que seja o porteiro, essencial para controlar as entradas e saídas! Esse será sempre o mais forte candidato a ser o próximo a "contribuir para o bem de todos", sem (poder) olhar ao seu.
É por isto que eu espero. É por isso que eu sou um zombie. Porque nada mais posso fazer ou ser. Estou vivo e "morto", em simultâneo.
Sem comentários:
Enviar um comentário