segunda-feira, agosto 20, 2012

Nunca nada está totalmente terminado...


Há uma sensação estranha sempre que (parece que) terminamos alguma coisa. Seja o que for... uma relação amorosa ou até um copo de leite fresco que acabamos de beber. Da relação que finda, por exemplo, fica sempre alguma saudade ou ressabiamento que por uns tempos nos hão de tolher o sorriso da cara. No copo (aparentemente) vazio ficará sempre aquela última gotinha, branca, lá no fundo, a gozar connosco, feliz por não ter tido o destino do resto do líquido que "ainda agora" por ali estava a pesar-lhe em cima. (Mal sabe ela que o que se segue é um fim de vida trágico, por afogamento, num qualquer cano de lava-loiça...)

A verdade é que nunca nada está totalmente terminado. Haverá sempre algo que poderia ter sido mais bem feito... ou simplesmente feito. E que não foi.

Sinto isso sempre que "fecho" um texto importante, que o envio para ser publicado ou que o leio para uma peça de televisão. Uma vez mostrado ao público... não há nada a fazer. Está "oficialmente" terminado. Mas aquela coisa ali... porra... podia ter ficado bem melhor. Até posso fazer uma nova versão. Mas o público já (ou)viu aquela que deveria ter sido a única versão. 

Terminei o livro que me levou quatro anos a fazer, desde a proposta da ideia até ao envio dos ficheiros PDF para publicação. Na última das últimas revisões estive a alterar coisas. E mais alterava, se não me contivesse e me obrigasse a "deixar ir" uma ou outra coisa que a mim me parecia menos bem mas que sei que aos outros parecerá tão bem "assim" quanto "assado".

Foi um processo penoso, cheio de erros da minha parte (nota mental: para escrever um livro, há que ser regrado, escrever regularmente e com método, para não perder o fio à meada nem prolongar 'deadlines' ad eternum!) e de quem tutelou (ou deveria ter tutelado) o trabalho. Mas foi também uma oportunidade de aprender. E tanto que eu aprendi! Desde perceber que uma boa ideia e uma boa intenção são sempre valiosas até ao facto de poder descobrir perfeição na imperfeição, ou seja, que os ditos "normais" (nós, sem deficiência) nada têm de melhor do que os homens e mulheres que nascem... "diferentes" ou, por um acaso da vida, "diferentes" de nós ficam. São eles que deveriam ser o nosso bom exemplo a dar. Sempre. Se o livro conseguir provar isso mesmo a quem o ler... ótimo! Terá atingido exatamente o objetivo que me propus alcançar com ele.

É um livro também ele diferente. Não terá o toque e o cheiro do papel. Sairá apenas online. Poderia aqui dizer que é esse o caminho do futuro e tal. Ficar-me-ia bem dizer que foi opção minha. Não foi. Não foi sequer opção. Foi "saída única" para um tomo que foi escrito a custo zero (tal como toda a imagem foi feita e editada a custo zero - não há palavras que façam justiça ao trabalho e à postura do Júlio Barulho em todo o processo, desde o «Se confias em mim para te acompanhar, é claro que te acompanho!», dito "às cegas", até ao permanente "picar-miolos" para não desistir na procura de financiamento para o livro) a favor de uma causa e de uma instituição que falhou no processo de financiamento da obra, deixando quase cair o projeto por terra, mesmo na reta final. Para ficar de bem com um parceiro/sponsor que foi desde o início (desde o lançamento da ideia) o "patrocinador" da obra, que até fez exigências para suportar os custos da publicação e por fim se negou a libertar a verba (lembro que esse dinheiro não seria para mim - à exceção do pagamento de despesas inerentes às deslocações feitas para entrevistas - mas sim para paginação, impressão e edição do livro).

É assim. Está feito. Se calhar, está mesmo terminado. Muito embora, findo este (e mesmo depois de todos os problemas que me deu este projeto), tenha vontade de fazer outro livro, continuando aquilo que comecei com o livro "Testemunhos de Ouro" e perceber se o desporto paralímpico português sai reforçado dos "Jogos" de Londres em 2012, se há um plano para a paralimpíada do Rio de Janeiro em 2016 e se haverá pessoas novas a entrar para o desporto adaptado tomando conhecimento das histórias de vida dos atletas que representam (e/ou representaram, no passado) Portugal em Jogos Paralímpicos. Nunca nada está totalmente terminado, de facto. Mas não sei se um segundo livro sobre o assunto será sequer começado. Terei de pensar muito bem no assunto, a ponto de perceber se vale a pena ou se é melhor, simplesmente, "deixar ir".


O livro, "antes" e "depois".
Em cima, o caderno onde tomei todas as notas durante as entrevistas.
Em baixo,  a capa final do livro.


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