sábado, setembro 15, 2012

O "mais-do-mesmo" (até no riso) é mau


Hoje passei sensivelmente uma hora a rir. Pus auscultadores, alheei-me do que me rodeava e decidi ver e ouvir algo que sabia que me faria rir. E ri. Com gosto. Sem alarido, nem nada que se parecesse, mas ri-me com gosto. Ri-me, sobretudo, de coisas novas que nunca tinha ouvido, ditas com humor refinado, por vezes, ou simplesmente palerma, noutras. Mas novas, acima de tudo; "frescas", nesse sentido de novidade.

Ao mesmo tempo que ia ouvindo - e rindo - dei-me conta de que conheço pessoas que se riem há vários anos exatamente das mesmas coisas, dos mesmos assuntos, dos mesmos indivíduos. Isso faz-me confusão.

De repente, imaginei que podia dar-se o caso de haver gente - não aquelas pessoas, necessariamente; mas haver gente - que riria hoje a bandeiras despregadas das anedotas das cassetes do Cantiflas dos anos 70 ou 80, como se essas piadas fossem de 2012, "novas a estrear". Ou, pior, como se essas anedotas, contadas todos os anos, na mesma altura do ano e no mesmo sítio, fossem acolhidas pelo mesmo público como se fossem contadas pela primeira vez... todos os anos. Faz-me confusão.

Faz-me confusão que haja pessoas que são "felizes em loop", como se nada de novo lhes fizesse "cócegas" naquela parte do cérebro que permite ao ser humano (sor)rir.

Há uns tempos, perguntei-me a mim próprio - não que eu leve muito a sério as respostas que dou a mim próprio quando me questiono - por que raio, sendo eu pouco adepto de ler livros, até gostava de ler livros... mas só se fossem livros de humor; de autores/humoristas/comediantes estrangeiros, de preferência. (Gosto que continuo a cultivar, com alguma "religiosidade", de resto.) A resposta que dei a mim próprio estava nas páginas desses mesmos livros. O humor que ali estava era-me novo, diferente de tudo o que via, ouvia e lia diariamente. E o facto de serem visões do mundo, bem dispostas, de pessoas que me são longínquas - em tudo, até na distância geográfica - conferia um muito razoável grau de certeza na "frescura" àquele "material". Bom... a não ser que um pseudo-humorista-chico-esperto por cá já se tivesse apoderado de piadas feitas por um estrangeiro para o usar em Portugal como sendo material original seu... Oh wait... há uns quantos que o fazem... Sim, eu topei; e topo, quando acontece.

Atenção: eu também me rio de coisas que já ouvi. E também me rio daquela história mesmo, mesmo, mesmo muito boa, sempre que alguém com jeito para a contar a conta. E rio-me com gosto dessa mesma história, dessa mesma anedota, desse mesmo assunto, desses mesmos indivíduos. Não faço é disso a regra do meu sentido de humor.

Já agora, eu, que para além de rir gosto de (tentar) fazer rir as pessoas, tenho dificuldade em voltar a piadas que já contei, a não ser que faça muito sentido lá voltar. E se me desse conta de que todos os anos me ocorria dizer aquilo, da mesma forma, para as mesmas pessoas, também me faria confusão. Por isso evito. E tento criar. Mesmo que não crie bem, tento. A tentativa e erro (muito embora uma piada falhada, sem o riso salvador, do outro lado da conversação, seja atroz) também faz parte do processo humorístico. Acho eu, que não sou humorista. O "mais-do-mesmo" é que não. É sempre mau, em tudo na vida. Até no riso é mau.

Sem comentários:

Enviar um comentário